A seguir trago uma reportagem que vi hoje na TV Globo que mostra um estudo feito sobre os jovens e suas relações com as gangues.
Estudo aponta falhas nos projetos para a juventude no DF
Gangues com centenas de adolescentes. A Secretaria de Direitos Humanos e a Cufa apresentam hoje, dia 14, um estudo sobre violência juvenil no DF. Foram ouvidos 73 integrantes de gangues.
Cada rabisco pelas ruas é uma assinatura de gangue. O estudo feito pela Secretaria Especial de Direito Humanos, da Presidência da República, em parceria com a Central Única de Favelas, a Cufa, mapeou 60 delas. Algumas chegam a ter mais de 400 participantes. No total, foram ouvidos 73 integrantes desses grupos. Mas, o que esses muros pichados têm a dizer?
“Estar em gangue é uma forma de participação na sociedade. Claro, que não é uma forma de participação política, mas é uma forma de dizer eu existo e eu quero que vocês me olhem”, enfatiza a socióloga e coordenadora da pesquisa Miriam Abramovay.
Invisível diante dos olhos da sociedade, os jovens se organizam e buscam uma forma de aparecer.
“Eu costumo dizer que sempre mobilizei. Eu tinha o início de uma gangue chamada ‘SAN’, que eu mesmo comecei. Eu dizia: galera é o seguinte, vamos pichar as ruas’”, lembra o instrutor de basquete Johnatas Pereira da Conceição.
“Mas comecei a abrir os meus olhos, a perceber que aquela falsa adrenalina era momentânea. E hoje eu encontro uma adrenalina que segue - que é o basquete de rua”, conta Johnatas Pereira da Conceição.
O basquete de rua é um dos projetos que têm dado certo. Ele tem o holofote que a juventude deseja - agrega, dá força e transforma a agressividade em brincadeira.
Mas a pesquisa mostra que a maioria dos projetos públicos feitos para a juventude ainda não tem essa percepção. Até as escolas falham. “Eles criticam muito a educação, que é uma escola que não lhes dá espaço. Que a escola não ensina matemática, português nem ciências. Então, o que eles fazem é aprender as primeiras letras de pichação na escola para ocupar o seu tempo. Isto são palavras deles”, afirma a socióloga Miriam Abramovay.
Da marca das pichações para a marca das quadras. Qual jovem nunca sonhou em ser famoso ou reconhecido nas ruas? Na oficina de barquete de rua, eles são as estrelas. De garoto problema a astro de basquete. Em quadra, Jonhatas é Jonhy, o cara das quadras de Ceilândia.
“Hoje, a minha mãe tem orgulho de dizer que criou agente, de dizer que somos filhos dela”, revela o instrutor de basquete Johnatas Pereira da Conceição.
E os movimentos de Jonhy, agora, inspiram os ainda pequenos passos do jovem Kelvin Lima. “Quem me ensinou vários truques foi o Jonhatas. E quando eu crescer quero ser jogador de basquete”, diz Kelvin dos Santos Lima, de 10 anos.
Os dois fazem parte da oficina de basquete da Central Única de Favelas (Cufa), que já leva em conta este novo olhar sobre as necessidades destes jovens.
“Uns querem proteção, outros querem status. E eles conseguem na gangue, a partir da sua visibilidade do ponto negativo, que seja pichando o muro ou cometendo pequenos delitos. E na oficina de basquete agente tem uma visibilidade positiva, através do esporte, da cultura, da arte e da educação. E eles passam a ser referências na sua própria comunidade, assim como o Kelvin tem como referência um outro jovem da sua própria rua”, explica o coordenador da Cufa/DF Max Maciel.
E não precisa muito para construir um sonho: celular, bolas e a conversa é outra. “A gente vai buscar as medalhas por aí, podem se preparar”, destaca Johnatas Pereira da Conceição.
Reportagem: Albert Steinberger
Imagem: Edson Cordeiro
Edição de imagem: Ademir Valentim
Rede Globo DF TV 1° Edição de 14 de junho 2010